Habaneiro

Impressões poéticas de Havana
Como tivessem jogado uma bomba, e jogaram de muitos tipos. Estrangulado o tempo. Um tanto aqui é ausência, daquelas que trocam o cheiro da beleza pelo da vitória: pugilista esbofeteado em golpes desproporcionais de luvas de canhões. Calção poído e lhe tiram um olho, arrancam as pernas. Resiste, não a qualquer custo, qu'isso nunca foi sobreviver. Faço-te várias concessões, menos desistir - pugilista que não se concentra no adversário, mas nas próprias luvas, o absurdo de canhões é menos que a sobrevivência, deixa isso para os que vêm de fora. Quieres algo? Faça-o dez vezes. Improviso, paciência.
Imensa humanidade, vá entender.
Uma questão de direitos irremediáveis, e não de acúmulos que garantam isso. Alegria, como dor, não deve ser comparável, mas algumas se dão por um doloroso adversativo - pergunte a qualquer morador de favela. Em La Habana a tal alegria, que também é calma e hospitalidade, soa conclusiva de um sistema centrado no ser humano, e não no seu consumo. Pela mesma linha: a falta de violência.
Qual país pobre não tem pobres? - o socialismo precisa ser uma experiência mais experimentada. Em degradê, vai-se de Miramar a Havana Velha, Malecón afora ou pelas entranha de Centro Habana, a pele escurecendo, o dinheiro rareando passo a passo. Mas: há um tanto de diferença nas desigualdades, que não coexistem milionários – diplomatas não contam - e miseráveis. Os poucos recursos da ilha têm lá seus matizes. Mas falta de dinheiro - dificuldade em gradações variadas mas compartilhada por todos - não contamina outras esferas do que é indivíduo. Ou do que é sociedade.
Economia desaquecida, não há quem não reconheça. Da ex-vice-ministra do trabalho e revolucionária senhora ao bicicleteiro sorridente. A um ponto que quase se esquece: um dinossáurico bloqueio econômico obriga o pugilista a golpear com um saco plástico enfiado na cabeça.
É o que se tem, a economia precisa rebolar e absorver nos conformes os inúmeros qualificados que o mercado do turismo acaba trazendo para si. Bambolear e resolver os insuficientes fracionamento e qualidade da alimentação gratuita a que todos têm idêntico e inequívoco direito – as crianças mais, que se o diga. Borboletear e resolver como ficam os salários de quem não vê pingando o dinheiro e os regalos dos turistas. Discutem-se algumas medidas (esse 'discutem-se' inclui a população), a principal na abertura já iniciada de estabelecimentos privados e concessões de autonomia. De cima da favela carioca ou dos tabuleiros alagoanos, diria eu: dez vezes mais recapear o socialismo do que desfazer a tarrafa necessariamente excludente capitalista.
Atividades autônomas sendo permitidas, aos poucos o Estado perdendo a exclusividade da economia – restaurantes, táxis, inquilinos, barbeiros: uns 500 mil cubanos exercem o trabalho por conta própria. O fantasma da perestroika ronda, que o capitalismo não costuma se contentar com pouco. É dita também a unificação de moedas, a nacional vale vinte e cinco vezes menos que a estrangeira, e por aí vai: o socialismo tentando seguir adiante num mundo que já s'enfronhou na lei do vai-quem-pode.
E como pagar melhor os graduados? Como segurar a desigualdade – antes era 'companheiros', reclama uma cubana, agora nos balcões já se ouvem os hierárquicos 'senhor', 'senhora' e 'senhorita'. Como impedir o capital de atropelar as pessoas? E a industrialização do país, como se resolve?
Quem souber ganha um maço de cigarro Criollo ou Popular. Derby-Vermelho é refresco, pode-apostar. 
Uma questão de premissas, ora, ora: que se comece pela justiça social. Nasceu? É o que basta. Um estado que procura não ter ponto cego, ainda que não seja o bastante. Choveu? É possível que as paredes anciãs, de bairro mais ou menos pobre não aguentem, que construção e reforma civil precisam de dinheiros que o Estado não dá conta, mas não a ponto de que as chuvas matem pessoas no atacado, como cachoeiras de excluídos desembocando em lugar-nenhum. Chuvas, aliás, tempestades. E ciclones.
Tem o geólogo que versa com erudição sobre não importa o que e participava do programa nuclear do governo para geração de energia. Veio o fim da URSS e, de brinde, o endurecimento do bloqueio econômico. Estrangulado o tempo. Chama-se período especial, numa delicadeza de linguagem que não dá a dimensão do que se passou nessas bandas. Crise do Euro, desaceleração na China, economia afundada na Argentina? Junte tudo isso, multiplique por dez: a metade do que aconteceu. Só houve um jeito, porque dar o ultimato liberal do salve-se-quem-puder não é jeito nenhum - resiste, não a qualquer custo, qu'isso nunca foi sobreviver. A economia, então, desde os anos 90 se agarrou no turismo, as garantias sociais para todos foram mantidas. 
Turismo? Ao ouvir isso, os gusanos de Miami, maliciosamente ignorados pelo governo Clinton e demais, trataram de invadir o espaço aéreo e depois jogar bombas nos hotéis de Havana contratando mercenários da América Central. O modelo que tinha como premissa o ser humano a duros golpes sobreviveu, pergunte a qualquer um. Nem eles sabem como. Os agentes de inteligência do governo de Cuba infiltrados em grupos terroristas cubano-americanos para evitar os atentados – como faz a CIA nos afeganistões, como faz a Polícia Federal nos grandes esquemas, como faz o repórter do Fantástico nos postos de gasolina adulterados - estão presos nos EUA. Duzentos canais pagos pela TV a cabo, jornais diários, revistas de todos os tipos na banca e quantos no Brasil sabem desse caso, um tremendo escândalo internacional? Como se a nossa liberdade de imprensa não fosse vinculada a um projeto econômico-político, rá!
Geologia é caro, energia nuclear ainda mais: período especial, projeto suspenso e não mais retomado. O geólogo foi gerenciar hotéis. Vinte anos depois, com a possibilidade de trabalhar de forma autônoma, comprou um carro e iniciou num táxi especial - só trabalha por encomenda e embute no preço o valor de cada um dos seus assuntos. Estuda a construção de um site com informações históricas sobre itinerários voltados para turistas anti-babacas.
Paranauê, camará! Berimbau atabaque, pandeiro. Jogo de nível em Havana Velha, qual a surpresa? Já se diz por aí: até parece que estou na Bahia. A música em português falava em polícia que pega o negro. Em espanhol cubano, isso faz mais sentido no passado de colônia. Ainda que o racismo, como o machismo e a questão dos homossexuais, não tenha sido tratado historicamente como deveria. Entraram no bojo da lógica de sociedade que buscou eliminar de forma geral estruturas de opressão. Vai atravessar a rua por que o outro tem cara de marginal, e cara de marginal é negra? Vai ler sobre o índice alarmante de estupros? Vai saber que o outro apanhou porque é gay? Mulher tomando porrada e quase nunca em cargos de maior prestígio? Não em Cuba. O respeito ao ser humano é uma construção, isso o capitalismo não vai entender. Os debates pontuais, que precisam ser feitos porque são muitos os ranços de quem teve escravidão e outras heranças latino-caribenhas, aos poucos ganham terreno e começam a ser postos na mesa.
Num bairro mais proletário, espera-se pela chegada na bodega dos mantimentos básicos aos quais todos têm direito pelo mesmo ínfimo valor. Arroz, frango, azeite, café e que tais – leite era pra todos, depois do sufoco do período especial, só pras crianças até sete anos. Reclamam que as quantidades não dão e que precisam complementar em mercados mais caros ou nas bolsas negras. Então: nasceu em família pobre, no meio do nada e não vai ser jogador de futebol? De qualquer forma, seu almoço está garantido. E, literalmente, o leite das crianças. No mais, vai às compras com o que o salário puder comprar. Não pode muito. Quase nada - mas ninguém parte do zero.
Em fim de expediente, um rapaz de papo na bodega pescou uma turista que passava por lá. Um bairro popular, já de noite, sozinha e sem falar a língua. Nada que inspirasse medo, quer valer quanto? E tome rum em garrafa de plástico caprichada no gelo. A eterna explicação em portunhol de que se garantias sociais não garantem tudo, imagine viver sem ter nenhuma. E que a violência dos campos e cidades patropis é epidêmica como a dengue. E que o capitalismo é um pacote completo, exclusão, miséria, opressão, subserviência. No Brasil, camarada, também tem que ser amigo do rei, mas de um rei com um nariz empinado para o lucro e que passeia invísivel comandando o tal livre-mercado. Um outro rapaz se interessou pelo assunto e o papo estava seguindo: o câncer que é o capital especulativo, tal. Não fosse o convite de sempre - conhecer a casa e a mãe - e ver novela brasileira. Oi, oi, oi.
Profissão: babalaô da Santeria - em português, Candomblé. Negro, 35 anos, mora sozinho num apartamento de um prédio com singela arquitetura colonial. Como o rum aprofunda o portunhol! Em volta da pequena sala com televisão e apetrechos religiosos, toca-se a falar de Carminha e Tufão dublados em mexicano, Messi e Neymar. Temas que todos lembram do Brasil – carnaval e violência. Como las mujeres son lindas en la novela. A mãe de cabeça feita e lenço, o padrasto que repetia um cigarro Popular a cada dois minutos. Rum, gelo, limão e portunhol impedem que se lembre do mais que foi dito, apenas: a cordialidade e a inédita constatação de que pobreza – que um dia tem que não ter - é uma questão econômica, e questão econômica não tem nada que ver com todo o resto, direitos, cultura, saúde, o que for. Uma longa caminhada de volta para casa, que transporte público é algo jamais resolvido. Faltam automóveis e combustível - dá-lhe, bloqueio - então: busão é lotado, carro, como não tem pra todo mundo, é só para profissões que exijam. Bicicletas foram febre no período especial, agora nem tanto. Popular é la boteja, la maquina, el amendron – carros antigos que fazem itinerários fixos.
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Bicicleteiro de 40 anos, negro, camisa social cortada nas mangas e um charuto. Vê a turista dando mole e desenrosca um sorriso grandão. Com fluência linguística de quem aprendeu bem a concatenar as ideias, fala da América do Sul, das dificuldades econômicas, da escola do filho que foi transformada em hotel - o turismo que Cuba tirou da cartola para poder manter seu sistema social também rosna e tira pedaços - e o convite de sempre para conhecer a casa. E a mãe. O bairro é de roupas penduradas, crianças jogando pelada (desculpa, beisebol, mas o futebol é implacável), típico bairro de cachorro correndo atrás de bicicleta. Quer mostrar a pobreza. Uma pobreza sem polícia nas portas, sem armas nos dentes, com casas que existem, e não barracos que a necessidade individual obrigou inventar. Pobreza que não parte do nada. Não é menos pobreza – o socialismo precisa ser mais experimentado. Que estuda, tem o mínimo para comer garantido e acesso à saúde, escola, cabeleireiro, oficina mecânica, academia, cinema, curso de francês, espetáculo de dança. Tudo quase de graça: é difícil pensar também em um serviço que não seja subsidiado pelo governo e oferecido a preço baixo a todos – e todos, é mais do que qualquer um - na lógica de acesso amplo a cultura, saúde, educação e lazer. Miséria é outra história. O bicicleteiro mostra seu filho, forte como o quê, e de dentes estalando rigidez. Nenhuma chance de não completar 25 anos engrossando as estatísticas que se conhece terceiro mundo afora: jovem-negro-de-periferia-assassinado-aos-18-anos. Talvez jogue pelada na rua entre um beisebol e outro. Proibida pelos EUA de retransmitir suas emissoras, há poucos anos Cuba roubou o sinal de satélite de uma delas e liberou para a população um canal de esporte. Aí que o jogo chamado futebol, o que pode ser jogado em qualquer terreno por quantos forem, é o que mais se encontra pelas ruas nos pés ainda não muito habilidosos da molecada de dez a quinze anos.
Duas salas, banheiro sem descarga e o colchão dividindo espaço com a geladeira. Muito aqui é ausência. Nenhuma delas que deixam esquecer: a pobreza é mais pobre no Brasil, tem menos dentes e bem menos palavras na boca. A pobreza que conheço, compadre, além de tudo se chama opressão.
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Rapaz de 33 anos, mestiço, morador do que seria a zona sul carioca. Com menos conforto, mais tempo e tranquilidade. Dá aulas de mergulho para turistas, o que não é permitido – aos poucos vão sendo liberando atividades que podem ser exercidas de forma autônoma. Mas num pouco que todos têm pressa. Recebe em moeda usada para o turismo, a tal que vale vinte e cinco mais do que a nacional e paga as cervejas que quem ganha em pesos cubanos não pode pagar. Também faz escambos, muambas e gambiarras, numa rede de contatos que, em um dia, o leva à mansão de uma diplomata canadense (paga pelo governo do Canadá), à casa tipicamente popular de um ex-combatente de Angola e à de um artista plástico que trazia para ele dos EUA uma camisa de beisebol. Em cada uma delas, meia hora de papo, cafezinho e tal, que tempo é coisa à toa, a gente esquece na pressa de alucinados coelhos de Alice, correndo para ganhar o dinheiro, correndo para gastar.
Apartamento com três quartos, mãe e vó. Vista para o mar. Gilete e TV de plasma comprados recentemente em Miami, entre encomendas e coisas que serão revendidas. Pagou algo de imposto pelo sobrepeso, quase simbólico. Livros e medicamentos isentos de tributação, sejam quantos forem. Ganhou um Iphone, mas precisa desbloquear e fazer ajustes para o chip caber. Sem internet 3G, que os Estados Unidos não deixam Cuba usar seus satélites ou cabos de transmissão de dados.
Numa lojinha metade Uruguaiana metade Edifício Avenida Central faz-se uma lipo no chip, cortando-o com um desgrampeador. Uns quatro rapazes de cabelo, barba e sobrancelha desenhados esquadrinham cordialmente o aparelho. Quente-quente, a lojinha cheia, os tecnoproblemas não têm equipamentos encomendados. Ninguém se irrita. Um pouco porque não se tem uma pressa neurótica.
Um pouco pelo que se quiser imaginar.
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Ex-guerrilheira, setenta e alguma coisa, cabelo ex-castanho-claro. É do partido. E do Comitê de Defesa da Revolução do bairro. E foi vice-ministra. Alia reuniões políticas com o aluguel pra turista dos confortáveis quartos da casa em que vive – atividade agora legalizada, formalizada, anotada em um caderninho e sobre a qual se paga imposto. Tem um marido mais doente, cujo pai foi assassinado num atentado terrorista dos contra-revolucionários. Contra esses atentados foram criados os tais comitês de defesa, compostos pelos moradores de cada quarteirão. Impediam a infiltração de terroristas e hoje cuidam de vistorias contra a dengue, campanhas de vacinação, problemas da região (quer matar do coração um cubano? Fale sobre a epidemia de dengue no Brasil). De suas assembleias, saem os candidatos a governantes dos bairros e províncias. Uma lei de agora permite aos médicos passar dois anos trabalhando fora do país de maneira autônoma - surgiu de sugestões colhidas em plebiscito pelos Comitês. Plebiscito este que resultou em 620 mil modificações nas leis trabalhistas. Autoritário e ditatorial, né?
A dona, graduada, tem uma neta universitária. E uma empregada doméstica graduada, cuja neta é universitária. Há uma distinção econômica entre elas que, num socialismo recapeado, não deveria - mas não uma tensão social. Nem um abismo de direitos, dignidade e informação. Ambas acharam novas possibilidades na moeda conversível do turismo de que Cuba precisou para se livrar do período especial. A filha da dona é médica, casou com um espanhol e foi morar em Madri. Tinha nas escolas cubanas as melhores notas, mas o estado não tem economia para tanto - o socialismo precisa ser recapeado. Tampouco a saúde é uma questão de comércio - infelizmente para a médica, felizmente para a sociedade, que tem seus médicos garantidos sem nenhum plano caça níquel para fazer de trouxa. O rebolado agora é para garantir que os médicos não ganhem tão menos – e é muito, muito menos - do que os que trabalham com turismo.
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Conquistas sociais, não sei quanto custa isso na bolsa de valores, tampouco como associar cartesianamente com a premissa de humanidade que se tem pra começo de conversa. No meio da viagem, soube que três torcedores de Pindorama estavam em coma após briga em estádio brasileiro privatizado cuja segurança não deu conta. Poupei os cubanos, não há portunhol que dê conta da nossa falência social. E poupei também: arrastão na praia e eles revistam os ônibus da Zona Norte, afora o quanto a cidade vai expulsando os seus. Gentrificação, não é isso? Escolheram um nome tão pernóstico quanto o processo que ele nomeia. Como explicar que um sistema que gera exclusões acha a solução dos problemas gerados por essa exclusão com mais... exclusão? Quando falei dos preços do Maracarena, perguntaram sem sarcasmo: esse dinheirão vai ser investido em incentivos públicos para a população praticar esporte? O que me faltou em portunhol me sobrou em vergonha. Ao entrar num estádio e ver um jogo de beisebol, la pelota, o que senti foi saudade. De ver futebol? Nem tanto, que gostei bastante de la pelota. Saudade era de ver um estádio para as pessoas, todas as pessoas, qualquer pessoa. Teve tudo o que tinha no Maraca, comidas e bebidas a preços normais – mas o rum entra entocado -, discussões exaltadas, espontaneidade, gente sentada, em pé, encostada, pulando, surtando, qual o problema? O que não precisava não tinha: nem conforto, nem luxo. Estádio nunca foi pra isso.
Cuba é um país pobre, como toda nuestra latino-america - o Brasil, bem mais rico agora, insistindo em não se sentir parte dela. É até uma ofensa comparar a ilha com quem, em tese, deveria: Honduras, Panamá, El Salvador e a ainda hoje colonizada, meu Deus!, Porto Rico. Optou por um sistema que não tem como maior mérito impulsionar a economia - senão desvincular dela as conquistas sociais e procurar garantir a distribuição igualitária de recursos. Sistema esse que seria interessante de ver resolvendo tal calcanhar econômico de aquiles. Mas: bloqueio econômico há 60 anos e a ruína do grande parceiro comercial. As dificuldades exponenciais em cifras comprovaram a premissa e, depois de quase cinco anos de declínio exponencial da economia (crise do euro é caramelo), não houve perdas de direitos nem a saída privatizante do vai-quem-pode. Os recursos são poucos, mas há um imenso esforço de que seja, no essencial, distribuído.
O modelo de representatividade para questões imediatas não tem que ver com partido. Associações de moradores em comitês de cada quarteirão ou prédio e assembleias para um conjunto de bairro. A descrença é que o país não tem recursos para promover melhorias imediatas. Para além disso, não se iludam com a democracia capitalista. 
Os Estados Unidos poderiam ter um candidato socialista brigando de igual para igual com um republicano? O sistema eleitoral restrito a campanhas milionárias que dependem dos poderes do capital impede isso. E então só se pode optar por um capitalismo com mais ou menos guerras. O Brasil pode ter um candidato que tenha espaço para um verdadeiro debate socialista? A lógica econômico-midiático-eleitoral não foi feita para isso, mas para garantir o beija-mão ao pmdbismo e a importação de tendências políticas privatizantes. Diferente disso, vão dizer: eu tenho medo (de perder todas as benesses que o capitalismo garante para alguns). Não tenha, nosso modelo protege esses medos. A conta, então, não é de quantos partidos existem, mas de quantos sistemas político-econômicos têm, de fato, condições de vigorar em cada país. Democracia à vera é permitir que forças contrárias aos interesses de quem manda possam assumir o protagonismo. Não vi isso em Cuba. Nem no Brasil. Nem nos EUA. E liberdade é algo que só começa quando se permite a quem quer que seja articular um pensamento. No mínimo, escola.
Não sou o Jornal Nacional para viver a triste farsa da imparcialidade - que é um dos pilares da nossa pseudo-democracia. Parto de premissas. Certamente, das mesmas premissas que fizeram e levam adiante a revolução em Cuba. Justiça social, igualdade de direitos, aborto do capital especulativo, perspectiva mais coletiva do que individual. Premissa: não estou falando de paixão cega. Não acredito no capitalismo como sistema político que garanta essas premissas porque, quando buscam garanti-las, vinculam-nas com possibilidades econômicas - o vai-quem-pode não é feito para todos poderem.
Socialismo vivo, em construção, com dificuldades. Ideológico? Como se a crença no capitalismo também não o fosse. 
Depois de Havana, fui a Alagoas.
Socialismo, e é daí pra frente.

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