Driblinho

Solo indecifrável, cada um pisa no que não vê - nem gol, pedaço de cano ou chinelo. São cinco e correm em dribles redemoinhos, espaço sem contorno. Ou alguém tem que ver com o campo inventado ao redor de três molecadas do futebol, o jogo que se põe com a tarde? 
Bola nos pés é credibilidade imaginativa, qualquer coisa que pareça infinito (menos Deus quando termina no instante de um pensamento em sinal da cruz. Qualquer coisa que não se pareça com Deus, pois Deus pressupõe alguém dizendo o que deve ser feito e não está em acordo com uma canela fina e poeirenta. Qualquer coisa que seja de um infinito duas vezes maior do que o que Deus conquistou pra si). 
Instante, mas de coisa alguma. Abaixo mirabolosas escalações cronometradas, coletes distribuídos positivamente em súmulas: só quem chuta a contramão da rua tem no grito o grito de gol. O estádio por devoção desinibida, ah, quem intoxica as palavras de sentido... 
Nem gol, pedaço de cano ou chinelo. Nem ninguém para se passar a bola (o infinito é de uma grandeza indivisível). A brincadeira não foi combinada, o drible é desse tecido: costura. É também assobio, senão, vejamos: despropósito, mão no bolso. 
A bola rabisca não porque caneta. Poesia. Golpe de mentira, mentira gratuita que se volta sobre si, a mentira circular. Metalinguagem, engano de corpo por necessidade. Tempo em suspenso para o artista passar baldio.

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