Gesto olímpico
Desesperado, o corpo tenta livrar sua dupla condenação: horizontal e submerso. Por inacreditáveis segundos, o músculo agarra no dente o limite da convulsão. Ou então: é preciso abraçar em porções de igualdade cada um dos cinco mil metros em ligatura de valsa. Tenuto, diz a partitura, é o contrário do stacatto.
Fora d’água, o ar se joga contra um corpo desgravitoso por uma caixa de areia. No mais, todo esporte guarda um ridículo de infância: o que começou com passadas científicas e auto-conhecimento de sapateiro (que o pé não me passem da tábua!, berra a mãe agoniada pra que o salto não queime) termina glútea e jocosamente, o corpo espatifado, com areia nos fundilhos.
Da ginástica mais rítmica ao pugilista esbofeteado no quase das luvas. Não é só o corpo. Pensamentos elaboram parábolas para se estilhaçarem louças voadoras. E os instintos suicidas de um ala-armador que decide sair correndo garrafão a dentro com uma bola metida debaixo do braço.
Tem quem sujeite a elegância de fraques a humores equinos [esporte é levar a sério a brincadeira, tornar-se indestrutível. No pique-pega].
Meu time mais querido que me perdoe, mas é muito o tempo aos futebóis. Um programa que debate, outro que discute. Um terceiro que assunta. Então – adictos – emburricamos na crença de que o corpo é monoglota.
Contato
manuelatrindade2@gmail.com